É isto.
“(…)Às
vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer,
arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre
a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo
que devia ser feito, (…).Às vezes é preciso mudar o que parece não ter
solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a
porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para
trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora,(...)apagar a memória sem
medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto,
cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com
tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a
alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.Às
vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir
nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair
pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem
dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para
outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer,
construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai,
quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho
se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos
guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser
de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar.
Até se conformar e um dia então esquecer.”
— MRP
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